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Esporte da Malha

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Esporte da Malha - Um jogo de pobre...

05-04-2013 20:50

 

Malha, um delicioso “jogo de pobre”
Criado na Europa do século 17 o jogo de malha resiste nas ruas de São Paulo

É domingo à tarde e um barulho estridente toma conta do bairro do Mandaqui, Zona Norte de São Paulo. São os discos de ferro raspando o asfalto da rua Flora, onde ocorre o tão esperado campeonato de malha dominical. A criançada fica assistindo reunida em volta dos pais. O jogo é jogado na rua e precisa parar quando um carro passa. Os moradores se divertem e torcem cada um pela sua dupla favorita. 

O objetivo do jogo de malha é arremessar um disco metálico e tentar derrubar um pino, geralmente de madeira, que fica no centro de uma circunferência demarcada por giz (ou pedaço de tijolo), localizada a cerca de quinze ou vinte metros de distância. As partidas são jogadas por duplas. Se o disco ultrapassa a demarcação e não atinge o pino, nenhum ponto é ganho. Se derrubar o pino sem sair da marcação: quatro pontos ganhos. O jogo acaba quando uma das equipes chega aos 30 pontos. “Mas a regra muda de lugar pra lugar”, explica Diógenes, 45 anos, o mais jovem dos jogadores.

“É assim que a gente passa o tempo por aqui, né?”, diz Aurélio, aposentado e praticante do esporte. Ele já faturou dois troféus ao lado de seu parceiro, Jucenir. E fica indignado com as reclamações dos vizinhos. “Essa barulheira só serve para encher o saco. Todo o domingo é a mesma coisa, não dá nem pra descansar”, reclama dona Maria, que mora na casa bem ao lado do “campo” de Malha.

Apesar de todo o esforço de dona Maria para acabar com a farra da malha, ouve-se falar deste jogo desde 1644, quando aconteceu a primeira partida. Primeiramente praticado por franceses e italianos, chegou ao Brasil com os portugueses, que o denominam Jogo de Ferraduras, Chinquilho ou Jogo do Fito. Ainda hoje se organizam campeonatos em Portugal como o Torneio Inter-Freguesias do Jogo da Malha da cidade de Fafe.

“Malha é jogo de pobre”, provoca a mesma dona Maria com um sorriso no rosto. Apesar de não gostar do barulho, ela parece reconhecer que o jogo é uma das poucas diversões do bairro. E não está errada quanto a isso, pois o esporte já era praticado na rua 25 de Março desde 1890. Eram os “peões” buscando divertimento após um dia de trabalho. Eles improvisavam o jogo usando pedras, ferraduras e chapas de ferro. Faziam de tudo para derrubar o “meco”, como é chamado o pino do centro.

A história continua no bairro do Mandaqui. O campeonato do domingo foi vencido pela dupla Diógenes e Roberto, dois irmãos loucos por malha. Eles comemoram a vitória rindo dos oponentes. “Dessa vez não deu”, conforma-se o tantas vezes campeão Aurélio. Ele e seu parceiro conseguiram apenas 18 pontos e estacaram. Para sossego de dona Maria, ao fim do jogo, eles conversam baixinho, fumam um cigarrinho e vão para casa. Domingo que vem tem mais zoeira, dona Maria.